Propósito.
Há quem tenha descendência. Há quem creia em deuses. Há quem navegue pela vida sem consciência ou intuito. Há quem veja a quotidianidade como uma folha de papel azul de vinte-e-cinco linhas que toca carimbar a selo branco para que se cumpra.
E há aqueles que tudo querem e – por isso – tudo questionam. Aqueles que vivem eternamente no limbo que medeia corroboração externa e fidelidade intrínseca.
Não acredito que essa luta diária que é sobreviver seja mais suportável para uns ou para outros. Mas como me relembraram hoje, já Eclesiastes dogmatizava a questão e nenhum filósofo se atreveu a responder-lhe.
Andamos aqui realmente todos a fazer [apenas] o possível? Não haverá algo que nos transcenda – ateiamente – e justifique este instante durante o qual povoamos o mundo? Será o resultado final de cada vida independente do empenho que lhe metemos?
Terá uma vida vivida com propósito conquistado a duras penas o mesmo efeito borboleta que uma existência levada com a doce leviandade da negligência?
Será fútil e inútil a demanda por algo que nos justifique, que pague o ar que consumimos, a dor que causamos, o tempo que roubamos ao outro? Seremos mesmo todos inconsequentes?
Por muito que mo tenham demonstrado hoje, recuso-me. O paroxismo do orgasmo na Anaïs. A Galatea de Esferas do surreal catalão. O “podes mostrar-me onde dói” do Waters. Os peixinhos dourados de Macondo. O velho que morre no mesmo mar onde me quero acabar. A sedução do “Amelia” da extinta La La La Human Steps. A simplicidade de um lençol de algodão que cobre a pele nua. O suspiro de um copo de vinho. O cheiro do mar que invade as narinas em forma de espuma rebentada na praia. O sabor a pele.
Não somos apenas. Somos, apesar de apenas, a possibilidade de algo mais. Somos, potencialmente, um propósito. Sem que nos dissipemos nessa busca, podemos pelo caminho deixar algo que, por um instante, faça alguém, perdido, algures, pausar. E não valerá, esse estúpido átimo, toda a nossa ridícula e limitada existência?
A que podemos almejar, afinal?
Se apenas puder morrer sabendo que um roçar da minha unha eriçou a pele de alguém, que uma frase minha suspendeu um instante de uma vida, que uma gargalhada partilhada abraçou um momento de dúvida, que um quadro que eternizei em pixéis ou palavras trouxe sorrisos a lábios alheios… Se apenas.
Ninguém salva o mundo de ninguém. Mas todos, se tentarmos, avançamos o mundo de alguém. Se vale o compromisso? … Ah… Pessoa, drogado e borderline esquizofrénico, já o disse e vulgarizou. O bardo maior chamou-lhe uma sombra andante. E, mesmo tudo tendo sido dito, e melhor, e antes, porque não? Porque não tentar, procurar, seduzir, testar, intentar, questionar, pedir, sonhar, eleger? Que perdemos por tentar?
Na verdade, o que desperdiçamos por procurar?
.
Another splinter under the skin
Another season of loneliness
I found a reason and buried it
Under a mountain of emptiness
Shame, shame
Shame, shame
[https://www.youtube.com/watch?v=R1G6-RUz3OA]
.
Maybe you have a trust fund, maybe you have a wealthy spouse; but you never know when either one might run out. Don’t mess too much with your hair, or by the time you’re 40, it will look 85. Be careful whose advice you buy, but, be patient with those who supply it. Advice is a form of nostalgia, dispensing it is a way of fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the ugly parts and recycling it for more than it’s worth. But trust me on the sunscreen…
[https://www.youtube.com/watch?v=ocxEgpGPjsw]
.
Tell me how It’s better when the sun goes down
We will never escape this town
I wasn’t scared when he caught me
Look what it taught me
Tell me how It’s better if I make no sound
I will never escape these doubts
I wasn’t dead when they found me
Watch as they pull me down
[https://www.youtube.com/watch?v=7U_LhzgwJ4U]
.
.
.
.
.
